segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Saindo do Armário - parte 1

Eu sempre imaginei como seria a minha saída do armário (coisas voando pela sala, eu destruindo todos os enfeites das estante, minhas roupas sendo jogadas na rua e imaginei até mesmo um: "Eu já sabia!") mas no fim das contas foi bem diferente... Liguei pra minha mãe e disse: "Sabe aquele garoto? Ele não é só meu amigo, ele é meu namorado."

Pronto, tava feito, acabou (Só? Como assim? E a louça voando? E eu fazendo o barraco do século?)

Calma, não foi APENAS isso, mas foi bem assim sem grandes eventos. Minha mãe agiu como TODAS as outras mães e passou por todos os clichês possíveis:

Ela chorou durante a primeira conversa inteira (que durou uns 40min ou mais) e parecia não acreditar não importasse o quanto eu repetisse!

Quando eu falei que ela usou todos os clichês não era força de expressão mas pra cada um deles eu já tinha a resposta adequada. Acredito que tenha sido extremamente cansativo porquê eu acho que ela usou todo o poder argumentativo que ela tinha (e não é pouco) e parecia que ela estava jogando água numa pedra: as respostas eram sempre incontestáveis e rápidas. Pareciam as etapas da morte:

A negação + Fúria:
Ela - Como é que você faz uma coisa dessas comigo.
Eu - Eu não tô fazendo nada, eu não fiz nada. Eu nasci assim, eu não escolhi nascer... a culpa é sua.

Ela - Como é que você escolhe uma dessas pra você? [forma carinhosa de xingamento]
Eu - Eu não escolhi nada, ninguém escolhe! Você acha que uma pessoa em sã conciencia escolhe ser discriminado na família, na escola, no trabalho... escolhe andar na rua com medo de a qualquer momento ser espancado até a morte?

Ela - Você já ficou com alguma menina pra saber?
Eu - Você ficou com alguma menina pra saber que não gosta? Não! Porque você nunca sentiu vontade! Eu também não... desde que eu me entendo por gente que eu sempre gostei de meninos e não de meninas.

Ela - Mas como você tem certeza? Não dá pra você tentar?
Eu - Você já ouviu falar em EREÇÃO? Não dá pra fingir que um homem tah excitado, não tem um botãozinho de liga/desliga.

Ela - A escola onde você estudou teve influência? [o diretor é gay]
Eu - Nada a ver, ninguém influencia ninguém, fosse assim não existia viado. [acho que usei a palavra viado de propósito só pra chocar um pouco]

Ela - Sua irmã já sabia?
Eu - Sim.
Ela - E porque ela não me disse nada?
Eu - Porque é um assunto particular, que só cabia a mim contar.
Ela - Seu primo EMO sabe?
Eu - Todo mundo que anda comigo sabe, meus amigos, os colegas de faculdade, de trabalho, TODOS e pra nenhum deles isso é um problema.

Nesse momento ela contou que rolou um boato que um tio da minha mãe comentou que eu estava com um namorado e minhã com uma namorada... OH!!! Really? Eu juro que preciso pedir a esse tio os números da mega-sena.

Depois ela perguntou se eu estava sabendo que ia pro inferno. Não lembro os detalhes mas lembro de um trecho que eu disse:
Você acredita REALMENTE que Deus ia fazer uma sacanagem dessas com alguém? Pera, vamo usar o raciocínio só um pouquinho: [xingando de burra, não façam isso!] 
Deus tá lá fazendo a pessoa, aí ele pega e diz:
Eita, eu vou mandar você pra terra mas você não vai se sentir atraído por mulher, não vai poder casar e ter filhos. Vai ser xingado e excluído dos grupos e lugares. Vai andar na rua com medo de ser espancado até a morte... Mas pra completar você vai sentir atração por homens, mas se você ficar com algum homem eu vou te mandar pro inferno! 
Você acha mesmo que Deus é tão FILHO DA PUTA ASSIM??? [Agora eu sei que vou pro inferno!] Você acha que aquele Deus que perdoava todo mundo ia fazer uma sacanagem dessas com alguém? Acha mesmo?

Em um outro mo mento ela falou do meu pai:
Ela - E seu pai? Ele não vai aguentar uma notícia dessas... [Cardíaco, hipertenso e diabético]
Eu - DÊ REMÉDIO A ELE E DEPOIS CONTE!
Em um certo momento ela cansou e disse que estava com dor de cabeça e precisava ir pro trabalho. Eu disse que ela tomasse um calmante antes de sair e disse que iriam surgir dúvidas e se ela quisesse podia ligar e perguntar que eu não iria me ofender com as perguntas.

As perguntas vieram no dia seguinte... mas isso eu conto amanhã.

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