segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Guest Post: Não tenho amigos héteros

Mais uma vez pedi a um amigo que me escrevesse algo e rapidamente fui atendido. Dessa vez um amigo lindo e sensível que vou chamar Poeta me escreveu sobre como suas experiências negativas na adolescência prejudicaram a forma como ele enxerga homens cis heterossexuais.

Depois do texto eu levanto minhas observações.

Não tenho amigos héteros

Para qualquer armariado, ou não, a fase de colégio é marcante. O que ele mais quer é passar por esta fase sendo o mais imperceptível possível [escondendo o que realmente é]. Mas é nesta época que encontramos pessoas que apontam, olham torto, destratam, caluniam, soltam piadas e até mesmo partem para algum tipo de contato físico com a intenção de intimidar [é a ponta do iceberg do que é a vida].
Posso dizer pessoalmente que passei por alguns momentos que definiram o modo como vejo alguns homens héteros e como interajo com eles. 
Na época de colégio eu sempre tinha mais contato com o sexo feminino e acho que esse foi o grande motivo para eu ter sido alvo de alguns garotos nesta fase da vida. Até mesmo os meus amigos mais próximos tiravam brincadeiras. 
Apesar de nunca ter dado liberdade ou motivo, constantemente eu sofria algum tipo de agressão por parte dos garotos. Em alguns momentos me isolava em algum lugar e apenas chorava, como se ficar ali sozinho e chorando fosse ajudar de alguma forma, como uma válvula de escape. 
Afinal, contar para meus pais seria inviável. 
A partir de então passei a evitar ao máximo manter algum tipo de contato ou vínculo com homens héteros. Passei a vê-los como símbolo de gente falsa, que oprime o mais fraco para se sobressair ou simplesmente demonstrar quem manda. 
Imagino que o que nos define são os fatos passados, só somos o que somos porque passamos por certos momentos que a vida nos proporcionou. Ao chegarmos à fase adulta apenas moldamos o que adquirimos e procuramos aperfeiçoar. 
Hoje tento lidar da melhor forma possível com homens héteros, porém quando recordo os momentos passados ainda mantenho um pé atrás ao lidar com um. Mas aguardo o dia em que poderei dizer que tenho um amigo hétero de verdade.


O texto do Poeta é enxuto e direto: a imagem que ele tem homens héteros é ruim, muito ruim. O bullying sempre deixa marcas e a maioria da população se nega a enxergar um problema tão sério como esse.

Quando falamos de bullying gay parecemos cruzar a fronteira do impossível, pessoas se levantam veementes para dizer que sofreram perseguição por suas características e sobreviveram, são pessoas "normais"!

Usar um argumento desses é um desrespeito a inteligência humana!

Pra quem não faz idéia da besteira que está dizendo vá estudar! Nove em cada dez gays relatam que sofreram perseguição na escola por sua orientação sexual (mesmo sendo armariados). Eu posso estar enganado, mas se me dissessem que 90% de um setor da população diz já ter sofrido alguma violência por preconceito, eu diria que esse setor está sendo perseguido sistematicamente.

E se mesmo assim você ainda pensa que a violência direcionada contra gays e lésbicas está no mesmo patamar de tortura que um jovem homem ou mulher cis sofrem por suas características físicas, faça o exercício de se colocar no lugar do outro.

Quando um jovem sofre preconceito por suas características físicas, ele sabe chegará em casa e encontrará uma família que lhe dará o apoio e o respeito que ele não tem na escola. Quando um jovem sofre preconceito por ser gay, ele sabe que chegará em casa e irá encontrar ainda mais preconceito e desrespeito (na ENORME maioria das vezes).

Querer comparar essas duas experiências é desonesto, querer utilizar essa comparação para justificar a violência diária que estes jovens sofrem é DESUMANO!


Se eu conseguisse achar um jeito de ver isso melhor
Eu fugiria pra algum destino que eu já deveria ter encontrado
Estou esperando esse "xarope pra tosse" fazer efeito.


sábado, 22 de setembro de 2012

As neuroses do armário e a geração Little Monster

Esses dias fui pra "night"!!! Fui lá tomar minha dose mensal de gelo seco, ácaros e música eletrônica (sem os quais eu não sobrevivo por muito tempo). Algumas coisitas ocorreram e me motivaram pra escrever:

1) Amigo viado (quase mulher) pagando de casal hétero:

Eu entendo perfeitamente o desespero que é ser ameaçado de ser jogado pra fora do armário e por isso algumas pessoas fazem umas palhaçadas dessas. Mas olhando pelo lado de fora do armário: "PQP como é ridículo!!!". Na hora respeitei e apoiei, mas é esse tipo de atitude que nos torna invisíveis e por isso mesmo "marginalizados". Nunca fiz isso, primeiro por que não convencia, segundo por que é uma agressão contra si próprio! Só quem já fez sabe a sensação de covardia e impotência que se sente após uma situação dessas.

2) Foto pra politico "Amigo dos LGBTTs" recusada:

Eu estava num grupo que não era o meu e ao lado de uma pessoa extremamente desagradável, portanto eu não tirava foto nem pra minha mãe nesse momento. Além disso pensei nas consequências para os armariados do grupo porém uma piada do meu amigo me deixou constrangido: "Aqui tem gente casada e com filhos!". Mais um reforço naqueles clichês e na invisibilidade.

3) Foto para site de boate:

Durante a festa, ficamos só eu e meu BFF  e fomos abordados por uma criatura com uma câmera (OBS: Era uma Cannon linda!) Eu aceitei sem muito esforço, mas tive que esconder minha água mineral da foto, porquê segundo meu amigo "É queima!" (OBS 2: Eu não bebo, por isso só água e refri!)

Depois do episódio da foto comentamos que se nosso amigo (que pagou de casal com a amiga sapatão) estive conosco, a foto jamais aconteceria: o papo rendeu e lembro de ter comentado como acho mais fácil lidar com essa geração mais nova (OS LITTLE MONSTERS) em relação ao armário. Eles cresceram numa perspectiva de mundo diferente da minha e olha que tenho APENAS 26.

Pra quem cresceu na internet as dúvidas, que nas gerações anteriores ficavam guardadas no mesmo armário dos seus sentimentos, agora estão propagadas e respondidas à exaustão (nem sempre corretamente).

Pra essa geração existe um batalhão de pequenos Cazuzas, que mesmo não tendo tanto talento tem coragem de se declarar como gays, lésbicas e trans. E também aqueles que mesmo não sendo gays abraçam a visão de um mundo onde pessoas não são discriminadas por seus direitos. São artistas politizados que dão a cara tapa e que não fogem das perguntas.

Uma geração com uma Lady Gaga não é uma geração qualquer!

Os fãs da Gaga doida (incluindo eu mesmo) se entitulam "little monsters" (pequenos monstros) e os monstrinhos são guerreiros: Eles dão a cara à tapa, eles ousam, questionam, brigam e ai de você se estiver no caminho deles! Eles são o futuro! Eles são a geração que através da arte tem feito mais mudanças que nem os ativistas mais loucos imaginaram!

Eles se levantam com as armas que possuem e fazem barulho! (Muito barulho) Seja nas redes sociais ou nas ruas. O tempo em que você podia ser preconceituoso e do alto da sua arrogância achar que iria ficar por isso acabou!

Esses monstrinhos estão vivendo e criando um mundo novo: um mundo onde o país mais poderoso do mundo é dirigido por um presidente negro que vai em cadeia nacional declarar seu lado na guerra contra o bullying.

"Eu não sei o que é ser perseguido por ser gay 
mas sei o que é crescer sentindo que às vezes você não se enquadra."


Um mundo onde questões delicadas são questionadas em videoclipes e canções, onde os papéis de gênero são questionados a cada roupa nova que algum maluco inventa.

Nesse mundo novo eles tem aprendido, que eles podem ser quem eles quiserem e do jeito que eles quiserem.

"Você é bonito(a) não importa o que digam!"

Eles aprenderam o que a sociedade moderna tem tentado a duras penas aprender: Só há mudança quando há união! Eles estão unidos e conectados, eles ouvem as mesmas vozes e cantam as mesmas canções, eles lutam por justiça e por respeito.

Eles são aquele bando de moleques estranhos que mesmo diferentes tem em comum o fato de não conseguirem (ou não terem vontade) de se adaptar às velhas regras.

O problema é que eles são muitos!

E eles são incansáveis: eles compram, reclamam, boicotam, fazem protesto. E ainda tem gente que diz que a geração atual é 100% alienada e despolitizada, quando que na história das lutas estudantis ou outras lutas sociais você viu empresas lançando notas de desculpas por causa de uma propaganda preconceituosa? Quando você viu universidades pedirem desculpas pelas besteiras proferidas por um professor?


"Então erga seu copo se estiver errado de todas as formas corretas."

Quem nos anos 80/90 ligava a TV e via programas tirando sarro com todo tipo de preconceito, hoje vê as mídias tradicionais chacoalhadas perdendo sua importância e poder pra um meio de comunicação sem rédias que exibe sem pudor e sem custo o episódio do beijo entre dois adolescentes gays que a poderosíssima Globo transferiu pra madrugada por medo de perder algum patrocínio.

Essa geração nasceu pra quebrar barreiras, pra abraçar as diferenças... De uma forma geral essa geração mais nova está abandonando de forma muito rápida preconceitos históricos (embora os que sobrem ainda causem estragados).

Eles pressionaram a tecla "foda-se" e pelo que eu vejo não vão soltar mais! Os que se apegam a visão de mundo que minha avó tinha, infelizmente estão se debatendo e rosnando por verem privilégios históricos serem tomados assim do dia pra noite. Afinal é um absurdo mulheres receberem o mesmo salário e terem as mesmas oportunidades de empregos ou um pai não poder espancar seu filho quando descobre que ele é gay.

E você acha que já viu tudo??? Prepare-se!!!

Esses garotinhos e garotinhas AMAM! 

Pois é, eles acharam pouco fazer como os gays da velha guarda que casavam com esposas de fachada e querem casar com as pessoas que eles quiserem! (E tem gente que acha que o mundo não vai acabar)

*-*

Como disse uma vez o Obaminha:


"Nada pode colocar-se no caminho do poder de milhões de vozes clamando por mudança."